quarta-feira, abril 11, 2012

Produtos multifuncionais - Nutrição e proteção das plantas

Os produtos multifuncionais são aqueles que atuam simultaneamente como fertilizantes e protetores de planta. Eles podem ser constituídos de um nutriente como fosfito (fosfato reduzido), fósforo e cobre, ou mesmo ativadores de crescimento à base de composto orgânico, como aminoácidos e protetores das plantas como substâncias antimicrobianas.

Renato de Mello Prado, engenheiro agrônomo e pesquisador da UNESP/Jaboticabal, esclarece que os produtos multifuncionais têm ação como fonte de nutriente para atender a exigência nutricional das plantas e também promotores de crescimento para induzi-las a produzir hormônios e substâncias antimicrobianas para reduzir a incidência de doenças e pragas na lavoura.

Atuação

Como exposto, os produtos multifuncionais atuam em diferentes partes da planta, seja para nutrir, controlar patógenos, ou até mesmo fungos de solo e plantas daninhas. Isso pode variar de cultura para cultura, mas vai depender do conhecimento técnico dos profissionais.

"Quando falamos em nutrição das plantas, temos que tomar cuidado para não desperdiçar nossos recursos. Assim, podemos fazer algumas perguntas, como: podemos afirmar que essas plantas estão com deficiência? É necessária a aplicação deste produto? Precisamos de uma avaliação altamente técnica para tomar a decisão, por exemplo, uma análise foliar, que em geral não temos costume de realizar, e que pode impactar nossa recomendação. Quanto a doenças, pragas e plantas daninhas são visíveis e comprometem a produção, por isso a decisão se torna mais fácil de aplicar ou não", explica José Annes Marinho, engenheiro agrônomo, MBA em Marketing.

Diagnose do estado nutricional das plantas

A diagnose é fundamental para que o produto seja recomendado, bem como para dar retorno ao produtor. "Eis um dos grandes problemas que temos para adotar a tecnologia - nem sempre o produtor está disposto a realizar este teste, pois há custos, e em geral pragas e doenças acontecem juntas. Neste caso, o tempo e custo são fatores de incerteza em adotar o produto", argumenta José Annes.

Vantagens e desvantagens dos produtos multifuncionais

Para José Annes, os produtos multifuncionais possuem um espectro maior de atuação, mas precisam quebrar paradigmas e mostrar definitivamente seus benefícios em produção, além das dificuldades na agilidade de um resultado rápido da diagnose nutricional das plantas. Tal barreira deverá ser superada, para que os produtos alcancem o mercado e possam ser mais utilizados.

Renato Prado aponta como vantagens dos produtos multifuncionais a ação múltipla visando suprir os nutrientes e proteger as plantas. "A severidade da maioria das doenças pode ser reduzida com o uso dos produtos multifuncionais de 20 a 50%, embora seja muito dependente do genótipo cultivado e das condições edafoclimáticas da região", considera.

Ainda segundo ele, na agricultura, por ser 'indústria a céu aberto', tem-se alta possibilidade de ocorrência de estresses de natureza biótica ou abiótica e, portanto, medidas preventivas de uso dos produtos multifuncionais podem beneficiar as culturas.

Espera-se um alto índice de utilização pelas plantas dos nutrientes aplicados nas folhas; correção de algumas deficiências de micronutrientes em curto espaço de tempo; possibilidade da aplicação dos produtos multifuncionais, juntamente com outros defensivos agrícolas.

Entre as desvantagens, ele destaca a viabilidade desses produtos apenas para culturas de alto investimento, restringindo as demais culturas. "O uso destes produtos tem risco de perda devido à ocorrência de eventual chuva após a aplicação. A menor efetividade de uso desses produtos em lavouras muito jovens normalmente apresenta área foliar restrita, e o número restrito de trabalhos científicos desenvolvidos com esses produtos limita os conhecimentos sobre o tema", enumera o pesquisador.

Deficiências nutricionais na fase reprodutiva

Segundo estudos de grandes pesquisadores dos centros de excelência no Brasil, a adubação foliar pode evitar que aconteçam problemas na germinação do pólen, florescimento e frutificação. Por exemplo, a falta de boro no cafeeiro causa abortamento das gemas floríferas, influindo também no crescimento vegetativo.

No caso da soja, José Annes explica que a utilização de adubos foliares à base de cálcio e boro tem papel importante, pois o cálcio afeta a fertilização de flores e formação de vagens de soja, existindo uma correlação negativa entre o teor de cálcio na planta e o número de flores e vagens abortadas.

Relação direta com as doenças

Em geral, os produtos multifuncionais têm uma redução significativa na severidade das doenças. "Não podemos comparar o controle/eficiência destes produtos aos produtos químicos, pois estarão em desvantagem, mas podem ser ferramentas importantes para o manejo das culturas", considera o agrônomo José Annes.

Critérios

Para não errar, é importante identificar e certificar se o produto é eficiente para o que se pretende no campo e para cultura, se a diagnose foi feita para determinar o produto adequado, se a época de aplicação está adequada, e se realmente é necessária a aplicação.

Renato Prado complementa, sugerindo os seguintes critérios:

. a aplicação foliar de nutrientes não pode ser utilizada como regra de substituição da adubação via solo, e sim como complemento;

. a aplicação foliar para macronutrientes não introduz o incremento suficiente no tecido foliar, pois as plantas apresentam alta exigência e, consequentemente, não apresentam reflexos significativos na produção; portanto, para esses nutrientes, não seria vantajoso o uso dessa técnica;

. a aplicação foliar para micronutrientes tem como ponto positivo a baixa exigência das plantas e, portanto, exige pequena quantidade aplicada; o ponto negativo seria a baixa mobilidade na planta, ou seja, o produto permanecerá nas folhas que receberam a aplicação. Assim, com o surgimento de novas folhas o eventual sintoma de deficiência deverá se repetir. Por isso, a frequência de aplicação dos micronutrientes poderá melhorar a sua eficiência.

. a água utilizada deve ser limpa, pois a presença de impurezas, como argila, por exemplo, pode causar reações com nutrientes, reduzindo sua ação;

. o valor pH da solução deve ser controlado;

. usar tecnologia de aplicação apropriada, como equipamentos bem regulados (bicos específicos, pressão, altura da barra) para que garanta maior homogeneidade e com reduzida deriva;

. O uso de espalhante adesivo mostra-se importante para aumentar a superfície de contato do nutriente na folha e, consequentemente, o incremento da absorção.

Todas as recomendações acima devem ser acompanhadas por um técnico que conheça nutrição de plantas, um fator fundamental na atividade. "Seguindo essas orientações, é bem provável que o produtor tenha retorno do investimento", pontua José Annes, citando o café, soja, milho, algodão, tomate e citros como exemplos bem sucedidos de uso desses produtos.

Nutrição adequada

Em geral, quando há equilíbrio nutricional as plantas tornam-se menos suscetíveis ao ataque de pragas e doenças. "Isso não quer dizer a eliminação de ferramentas disponíveis, como defensivos agrícolas ou produtos biológicos. Quando unimos essas ferramentas chamamos a atividade de manejo integrado, que utiliza todas as técnicas para obter o melhor resultado e o menor impacto para o ambiente. Está aqui o segredo de uma agricultura sustentável", revela o agrônomo José Annes.

Para ele, os produtos multifuncionais são uma tendência, assim como a união dos compostos, para facilitar as práticas agrícolas. "Ainda precisamos de mais pesquisas e recomendações adequadas para cada cultura, pois temos distintas situações em nosso País. Por isso é fundamental o acompanhamento técnico para que os investimentos possam ter o retorno esperado e a técnica possa vir a se consolidar", opina.

Viabilidade econômica

Na opinião de Renato Prado, a adubação foliar com produtos multifuncionais é importante em culturas de alto investimento, pois mesmo com pequenos incrementos na produção (cerca de 5%), o retorno econômico seria garantido, dado o alto valor do produto agrícola.

De acordo com o pesquisador, a importância do uso dos nutrientes adequados para a cultura ocorre pelo fato deles participarem da estrutura orgânica das plantas e por exercerem uma atividade enzimática, garantindo o ótimo metabolismo vegetal, propiciando, por exemplo, maior atividade fisiológica da planta, como a fotossíntese, com reflexos diretos no crescimento e na produtividade das culturas.

A nutrição adequada irá garantir maior tolerância das plantas a doenças e pragas, com reflexos benéficos na maior eficiência do controle químico e biológico utilizados na lavoura.

"A nutrição adequada aumenta a tolerância das plantas pelo fato de propiciar maior 'barreira física' da superfície das folhas à penetração de agentes patogênicos e também pela 'barreira química'. Isso porque os nutrientes estimulam a produção de compostos orgânicos que inibem o crescimento dos agentes patogênicos", esclarece Renato Prado.

Por fim, as plantas em estado nutricional adequado têm menor quantidade de alimento disponível para os agentes patogênicos, pois em seus tecidos há baixa quantidade de compostos de baixo peso molecular (aminoácidos) de fácil acesso ao patógeno, em relação à alta quantidade de compostos de peso molecular superior (proteínas).

FONTE: REVISTA CAMPO E NEGOCIOS

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