Uma combinação pouco comum de fatores fez disparar nas últimas semanas
a comercialização da segunda safra (a safrinha) de milho no Brasil. A
demanda firme, reforçada pelos preços competitivos do grão brasileiro em
relação à concorrência, somou-se ao aumento da disposição dos produtores
em vender, em meio ao avanço da colheita e tendo em vista eventuais
problemas de armazenagem. O resultado? Uma expressiva aceleração nas
negociações, inclusive da safrinha que será plantada apenas no primeiro
trimestre de 2016.
A cotação do milho americano para embarque em setembro pelo Golfo do
México está em US$ 170 por tonelada. Já o cereal brasileiro para o mesmo
período sai a US$ 145 do porto de Paranaguá (PR), calcula Andrea Cordeiro,
da Labhoro Corretora de Mercadorias. Segundo ela, os agricultores
aproveitam a alta cambial, e os traders, os preços atraentes do milho
brasileiro. "Na segunda-feira, houve reportes de compra de duas cargas pela
Coreia para embarque em outubro", informa.
Em Mato Grosso, maior produtor do país,
as vendas da safrinha alcançaram 69,3%
da colheita total esperada em julho, mais
que o dobro dos 30,15% e 34,3% dos
mesmos meses de 2014 e 2013,
respectivamente. O levantamento, feito
pelo Instituto Matogrossense de
Economia Agropecuária (Imea), indica,
ainda, que já estão comprometidos 5,3%
da safrinha 2015/16, que começará a ser plantada somente em fevereiro.
"Nunca houve um início tão antecipado nas vendas", diz o Imea.
O dólar valorizado e os repiques nos preços do milho no mercado
internacional têm ajudado a sustentar a commodity no país. Apenas em
julho, o grão subiu quase 13% em Chicago (ver abaixo). Os agricultores
também apertam o passo das vendas antes que a nova safra americana entre
no mercado, em setembro.
O cenário promissor destoa de poucos meses atrás, quando o horizonte para
o milho brasileiro era uma incógnita. Com o plantio empurrado pelo atraso
na semeadura de soja, cresceram os temores em relação à produtividade do
grão fora de sua janela ideal. Mas as chuvas, que costumam diminuir em
abril e maio em Mato Grosso, vieram para garantir mais um ano de safra
cheia. E mesmo os temores de que a superoferta pudesse reavivar as cenas de
milho a céu aberto, como nos últimos anos, agora estão sendo dissipados pela
cadência nas vendas.
Cleida Zilio, gerente comercial de um condomínio de produtores de Campo
Novo do Parecis (MT), já comercializou 60% das 200 mil toneladas que o
grupo deve colher este ano. O preço médio foi de R$ 15 por saca. "No ano
passado, estávamos 40% negociados e dependentes dos leilões do governo,
porque a saca estava abaixo do mínimo de R$ 13".
Da safrinha de 2016, o condomínio vendeu 20% para a trading suíça
Glencore, com cotações entre R$ 17 e R$ 18. "Nos últimos dias, porém, o
mercado deu uma aquietada. O Paraná está avançando na colheita, o que
causa impacto por aqui", diz.
Vicelíder em grãos no país, o Paraná negociou 25% de sua safrinha, acima da
média para o período (17%). Os preços no mercado disponível estão em R$ 21
por saca, ante R$ 18 nos últimos dois anos. E, segundo Edmar W. Gervásio,
analista do Departamento de Economia Rural (Deral), ainda há um "pequeno
espaço de valorização".
As chuvas que atingiram o Paraná nos últimos dias afetaram a qualidade de
algumas lavouras, mas não impediram o Deral de elevar a perspectiva de
colheita de 10,8 milhões para 11 milhões de toneladas. Analistas também
esperam que a Conab eleve sua projeção para a safrinha em Mato Grosso o
número atual está em 18,4 milhões. "Temos um excedente de produção de
uma nova safrinha recorde [51,5 milhões de toneladas] no país, que precisa
ser exportado", afirma Andrea, da Labhoro.
Ainda que não seja um comprador consistente de milho do Brasil, a China
está sempre no radar. Em junho, os chineses voltaram a aumentar suas
importações totais do grão, para 873 mil toneladas. E chamou a atenção a
mudança na origem do grão, com mais compras da Ucrânia.
No Brasil, a demanda aquecida por milho encareceu o frete nos últimos dias e
aumentou a concorrência imediata com a soja colhida no ciclo 2014/15, cujas
vendas também foram estimuladas pela conjunção de dólar e preços
favoráveis, mas com menos força que o cereal.
Fonte: VALOR ECONÔMICO
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